Thomas S. Monson
President of the Church - Outubro de 2008
Meus queridos irmãos e irmãs, sinto-me muito humilde por estar diante de vocês nesta manhã. Peço sua fé e suas orações, ao falar sobre coisas que têm ocupado minha mente e que fui inspirado a compartilhar com vocês.
Começo mencionando um dos aspectos mais inevitáveis de nossa vida aqui na Terra, que é a mudança. Em algum momento da vida, todos nós ouvimos uma variação do conhecido adágio: “Nada é tão constante quanto a mudança”.
Na vida, precisamos aprender a lidar com a mudança. Algumas mudanças são bem-vindas, outras, não. Há mudanças em nossa vida que são súbitas, como o inesperado falecimento de um ente querido, uma doença imprevista, a perda de algo que tínhamos e de que gostávamos muito. Mas a maioria das mudanças ocorre de modo sutil e lento.
Esta conferência marca os 45 anos desde que fui chamado para o Quórum dos Doze Apóstolos. Como membro mais novo dos Doze, na época, olhei com admiração para 14 homens excepcionais, que eram mais antigos do que eu nos Doze e na Primeira Presidência. Um por um, cada um daqueles homens voltou para casa. Quando o Presidente Hinckley faleceu, há oito meses, dei-me conta de que me havia tornado o Apóstolo mais antigo. As mudanças ocorridas nesse período de 45 anos, que foram progressivas, parecem-me agora monumentais.
Na próxima semana, minha mulher e eu comemoraremos 60 anos de casados. Ao relembrar o início de nosso casamento, vejo o quanto nossa vida mudou desde aquela época. Nossos amados pais, que estavam ao nosso lado quando começamos nossa jornada juntos, já faleceram. Nossos três filhos, que preencheram completamente nossa vida por tantos anos, estão crescidos e têm sua própria família. Nossos netos, em sua maioria, são adultos, e temos agora quatro bisnetos.
Dia a dia, minuto a minuto, segundo a segundo, saímos de onde estávamos para onde estamos hoje. A vida de todos nós, evidentemente, passa por alterações e mudanças semelhantes. A diferença entre as mudanças em minha vida e as mudanças na vida de vocês está apenas nos detalhes. O tempo nunca pára. Ele precisa prosseguir constantemente e, com essa marcha, vêm as mudanças.
Esta é nossa única chance na vida mortal — aqui e agora. Quanto mais vivemos, maior é nossa compreensão de que ela é breve. As oportunidades chegam e depois se vão. Creio que, entre as maiores lições que devemos aprender nesta breve jornada na Terra, estão as lições que nos ajudam a distinguir o que é importante daquilo que não é. Peço a vocês que não deixem as coisas mais importantes passarem por vocês, enquanto planejam um futuro ilusório e não existente, enquanto vocês têm todo o tempo do mundo para fazer o que quiserem. Em vez disso, procurem ter alegria na jornada — agora.
Minha esposa diz que sou fanático por espetáculos. Gosto imensamente de muitos musicais, e um dos meus favoritos foi escrito pelo compositor americano Meredith Willson, chamado “The Music Man”. O professor Harold Hill, um dos personagens principais desse espetáculo, faz uma advertência que quero compartilhar com vocês. Ele diz: “Se você empilhar amanhãs em quantidade, descobrirá que colecionou muitos ontens vazios”.1
Não haverá nada para lembrar no futuro, se não fizermos algo hoje.
Compartilhei, anteriormente, com vocês um exemplo dessa filosofia. Creio que vale a pena repetir. Há muitos anos, Arthur Gordon escreveu em uma revista de âmbito nacional:
“Quando eu tinha uns 13 anos e meu irmão 10, papai prometeu levar-nos ao circo. Mas na hora do almoço, ele recebeu um telefonema: um negócio urgente exigia que ele fosse para o centro da cidade. Preparamo-nos para ficar desapontados. Então, nós o ouvimos dizer ao telefone: ‘Não, eu não vou. Isso terá que esperar’.
Quando ele voltou para a mesa, minha mãe sorriu e disse: ‘O circo está sempre voltando para a cidade, você sabe’.
‘Eu sei’, disse meu pai, ‘mas a infância não’”.2
Se vocês têm filhos que já cresceram e se mudaram, provavelmente já sentiram ocasionalmente a dor da perda e o reconhecimento de que não deram o devido valor a essa fase de sua vida. Evidentemente, não há como voltar, apenas seguir em frente. Em vez de reviver o passado, devemos aproveitar ao máximo o presente, aqui e agora, fazendo tudo o que pudermos para garantir lembranças agradáveis no futuro.
Se ainda estão criando seus filhos, estejam cientes de que as marcas de dedinhos que quase sempre aparecem nas superfícies que acabaram de ser limpas, os brinquedos espalhados pela casa, as pilhas e pilhas de roupa suja para ser lavada, desaparecerão muito em breve e — para sua surpresa — vocês sentirão falta disso tudo, profundamente.
Há momentos estressantes na vida, seja qual for nossa situação. Precisamos lidar com eles da melhor maneira possível. Mas não devemos permitir que atrapalhem o que é mais importante; e o mais importante quase sempre envolve as pessoas a nosso redor. Freqüentemente, presumimos que elas devem saber o quanto as amamos. Mas não devemos presumir, precisamos fazer com que saibam. William Shakespeare escreveu: “Quem não demonstra seu amor, não ama”.3 Jamais nos arrependeremos das palavras bondosas proferidas ou do afeto demonstrado. Em vez disso, vamos arrepender-nos, se omitirmos tais coisas em nosso relacionamento com aqueles que mais significam para nós.
Enviem um bilhete para aquele amigo que vocês têm negligenciado; dêem um abraço em seu filho; dêem um abraço em seus pais. Digam mais: “Amo você”; expressem sempre sua gratidão. Nunca permitam que um problema a ser resolvido se torne mais importante do que uma pessoa a ser amada. Os amigos se mudam, os filhos crescem e os entes queridos morrem. É muito fácil negligenciarmos as pessoas, até o momento em que elas saem da nossa vida e ficamos com o sentimento de que as coisas poderiam ter sido diferentes. A escritora Harriet Beecher Stowe disse: “As lágrimas mais amargas derramadas junto aos túmulos decorrem das palavras que não proferimos e das coisas que deixamos de fazer”.4
Na década de 1960, durante a guerra do Vietnã, o membro da Igreja Jay Hess, que servia na força aérea, foi derrubado quando sobrevoava o Vietnã do Norte. Durante dois anos, sua família ficou sem saber se ele estava vivo ou morto. Seus captores, em Hanói, acabaram permitindo que ele escrevesse para casa, mas limitaram sua mensagem a menos de 25 palavras. O que diríamos para nossa família se estivéssemos nessa situação — sem poder vê-los, há mais de dois anos, e sem saber se os veríamos novamente? Querendo oferecer algo que sua família reconhecesse como sendo dele, e também querendo dar-lhes um valioso conselho, o irmão Hess escreveu: “Estas coisas são importantes: casamento no templo, missão, faculdade. Sigam em frente, estabeleçam metas, escrevam sua história, tirem fotos duas vezes por ano”.5
Vamos desfrutar a vida, ter alegria na jornada e compartilhar nosso amor com amigos e familiares. Um dia, para todos nós, não haverá mais amanhãs.
No livro de João, no Novo Testamento, capítulo 13, versículo 34, o Salvador nos admoesta: “Como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis”.
Alguns de vocês devem conhecer a clássica obra de Thornton Wilder: Our Town. Se conhecem, devem lembrar a cidade de Grover’s Corners, onde acontece a história. Na peça, Emily Webb morre ao dar à luz, e lemos a respeito da solitária tristeza de seu jovem marido, George, que fica com o filho de quatro anos. Emily não quer repousar em paz, quer sentir novamente as alegrias de sua vida. É-lhe concedido o privilégio de voltar para a Terra e reviver o dia de seu aniversário de doze anos. A princípio, foi emocionante ser jovem de novo, mas o entusiasmo logo esfriou. O dia não tinha alegria, porque Emily sabia o que o futuro reservava. Era insuportável ver como ela estava alheia ao significado e à maravilha da vida, enquanto estava viva. Antes de voltar ao seu lugar de descanso, Emily lamentou: “Será (…) que os seres humanos se dão conta da vida que têm, enquanto a vivem, (…) a cada minuto?”
Nossa compreensão do que é mais importante na vida caminha de mãos dadas com a gratidão por nossas bênçãos.
Um conhecido escritor disse: “Tanto a abundância como a escassez existem simultaneamente em nossa vida, como realidades paralelas. É sempre nossa escolha consciente que determina qual jardim vamos cultivar. (…) Quando optamos por não enfocar o que está faltando em nossa vida, mas somos gratos pela abundância presente — amor, saúde, família, amigos, trabalho, as alegrias da natureza e os objetivos pessoais que nos proporcionam [felicidade] — o deserto da ilusão se desfaz e vivenciamos o céu na Terra”.6
Em Doutrina e Convênios, seção 88, versículo 33, lemos: “Pois de que vale a um homem ser-lhe conferida uma dádiva e não a receber? Eis que ele não se regozija no que lhe foi dado nem se regozija naquele que faz a doação”.
O antigo filósofo romano Horácio advertiu: “Seja qual for o momento com que Deus lhe tenha abençoado, aceite-o com gratidão. Não adie suas alegrias de ano para ano, para que, onde quer que tenha estado, você possa dizer que viveu alegremente”.
Há muitos anos, fiquei tocado com a história de Borghild Dahl. Ela nasceu em Minnesota, em 1890, de pais noruegueses e, desde a infância, sofria de grave deficiência visual. Tinha imenso desejo de participar da vida cotidiana, apesar de sua limitação e, por meio de firme determinação, foi bem-sucedida em quase tudo que decidiu fazer. Contrariando o conselho de educadores, que achavam que sua deficiência era por demais intensa, ela cursou a faculdade, conquistando um diploma da Universidade de Minnesota. Mais tarde, estudou na Universidade Columbia e na Universidade de Oslo. Acabou tornando-se diretora de oito escolas na parte oeste de Minnesota e em Dakota do Norte.
Ela escreveu o seguinte, em um dos 17 livros de sua autoria: “Minha visão se limitava a uma pequena abertura no olho esquerdo, que estava coberto de cicatrizes profundas. Eu só conseguia ver um livro se o segurasse bem perto do rosto e forçando meu único olho o máximo possível para a esquerda”.7
Milagrosamente, em 1943, quando ela estava com mais de 50 anos, um procedimento revolucionário foi desenvolvido e, finalmente, restaurou grande parte da visão que lhe faltara por tanto tempo. Abriu-se diante dela um mundo novo e emocionante. Ela sentia grande prazer nas pequenas coisas que passam despercebidas para a maior parte das pessoas, como ver um pássaro voando, perceber a luz refletida nas bolhas de sua lavadora de louça ou observar as fases da lua a cada noite. Ela encerrou um de seus livros com estas palavras: “Querido (…) Pai Celestial. Eu Te agradeço. Eu Te agradeço”.8
Borghild Dahl, tanto antes, como depois de sua vista ser restaurada, tinha imensa gratidão por suas bênçãos.
Em 1982, dois anos antes de falecer, aos 92 anos de idade, seu último livro foi publicado com o título Happy All My Life [Fui Feliz a Vida Inteira]. Sua atitude de gratidão permitiu-lhe valorizar as bênçãos e levar uma vida plena e rica, apesar dos desafios.
Em I Tessalonicenses, no Novo Testamento, capítulo 5, versículo 18, o Apóstolo Paulo nos diz: “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus”.
Relembrem comigo a história dos dez leprosos:
“E, entrando [Jesus] numa certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens leprosos, os quais pararam de longe;
e levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós.
E ele, vendo-os, disse-lhes: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, indo eles, ficaram limpos.
E um deles, vendo que estava são, voltou glorificando a Deus em alta voz;
E caiu aos seus pés, com o rosto em terra, dando-lhe graças; e este era samaritano.
E, respondendo Jesus, disse: Não foram dez os limpos? E onde estão os nove?
Não houve quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro”?9
Em uma revelação dada por intermédio do Profeta Joseph Smith, o Senhor disse: “E em nada ofende o homem a Deus ou contra ninguém está acesa sua ira, a não ser contra os que não confessam sua mão em todas as coisas”.10 Que sejamos encontrados entre os que expressam gratidão a nosso Pai Celestial. Se a ingratidão é um dos pecados graves, então a gratidão é uma das virtudes mais nobres.
Apesar das mudanças que ocorrem em nossa vida, sejamos gratos e preenchamos nossos dias ao máximo com as coisas que mais importam. Que tratemos com carinho aqueles a quem amamos e que lhes expressemos nosso afeto, e que façamos isso por meio de palavras e ações.
Para encerrar, oro para que todos nós expressemos gratidão a nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Seu glorioso evangelho tem a resposta para as maiores questões da vida: De onde viemos? Por que estamos aqui? Para onde irá meu espírito quando eu morrer?
Ele nos ensinou a orar. Ele nos ensinou a servir. Ele nos ensinou a viver. Sua vida é um legado de amor. Os enfermos, Ele curou. Aos oprimidos, Ele deu alento. O pecador, Ele salvou.
Chegou um momento em que Ele ficou sozinho. Alguns Apóstolos duvidaram Dele e um deles O traiu. Os soldados romanos traspassaram-Lhe o lado. Uma multidão enraivecida exigiu Sua vida. Ainda ressoam do Monte do Calvário Suas palavras compassivas: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.11
Antes disso, talvez sentindo que chegava o momento culminante de Sua missão terrena, Ele lamentou: “As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”.12 “Não há lugar na estalagem”13 não foi uma expressão única de rejeição — foi apenas a primeira. Ainda assim, Ele nos convida — a mim e a vocês — a recebê-Lo. “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.”14
Quem foi esse Homem de dores, experimentado nos trabalhos? Quem é o Rei da glória, o Senhor das hostes? Ele é o nosso Mestre. É o nosso Salvador. Ele é o Filho de Deus. Ele é o autor de nossa salvação. Ele nos chama: “Segue-me”.15 Ele nos instrui: “Vai, e faze da mesma maneira”.16 Ele nos pede: “Guarda meus mandamentos”.17
Vamos segui-Lo. Vamos imitar Seu exemplo. Vamos obedecer a Sua palavra. Ao fazê-lo, daremos a Ele a dádiva divina da gratidão.
Irmãos e irmãs, minha sincera oração é de que nos adaptemos às mudanças em nossa vida, que reconheçamos o que é mais importante, que expressemos sempre nossa gratidão e que, assim, encontremos alegria na jornada. Em nome de Jesus Cristo. Amém.
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