Mensalmente,
o síndico recebia o balancete, observava os números por alto,
submetia à apreciação do conselho fiscal e encaminhava para o
arquivo.
Em
determinado mês, pegos de surpresa, síndico e conselho fiscal não
entendiam os motivos pelos quais as despesas haviam suplantado a
receita. Embora com receita fixa, já que o condomínio terceiriza os
Serviços de cobrança da taxa de condomínio, não foi possível
prever o prejuízo. Não cabe aqui criticar a direção do
condomínio, mas tudo indica que ela precisa de ajuda.
Nesse
caso, o contador fazia o serviço contábil para o qual havia sido
contratado, o balancete mensal, e a partir daí, qualquer resultado
advindo do confronto de contas, fosse positivo ou negativo, seria de
responsabilidade da administração. Um exemplo simples, mas que tem
a intenção de mostrar a importância que o contador terá como
consultor em um futuro próximo.
Partindo
para o lado empresarial, fica mais fácil entender o objetivo desse
exemplo, e como teremos que atuar junto à clientela nos próximos
anos. Em dado momento, empresários começarão a perceber que
escritórios de contabilidade precisarão fazer mais por suas
empresas, e não apenas aqueles Serviços rotineiros que não mostram
os rumos que elas estão tomando.
Artigo
nesse sentido foi escrito pelo professor Lopes de Sá ainda em 1998.
Com o título “Novas visões na profissão contábil”, ele
procura mostrar que a função do contador é também de consultor,
pois ninguém melhor do que ele para executar essa tarefa, uma vez
que somente ele entende a mecânica das contas em que trabalha, e
assim pode fornecer informações ao cliente para que tome decisões.
Em
seu artigo ele lembra ainda que “O papel de apenas informante de
saldos ou zelador de assuntos fiscais está sendo superado com a
Tecnologia avançada da informática”, e afirma que “A mais
destacada função do contador é a de orientador......”.
Em
2005, o também competente professor José Carlos Marion mostrava que
há tendências a mudanças, tanto que em seu artigo “Preparando-se
para a Profissão do Futuro” ele menciona que “os técnicos e
escritórios de maneira geral estão mais voltados para a avalanche
de guias fiscais, legais...e de ‘serviços de despachantes
contábeis’ ou, exclusivamente, escrituradores”, funções muitas
vezes já informatizadas, e sugere que as empresas doravante vão
precisar de profissionais da contabilidade que ajudem no processo
decisório, por meio de interpretações das informações contábeis.
Em sua análise o professor Marion conclui: “Assim, o contador, em
sua nova função, tem muito espaço pela frente, como o ‘médico
de empresas’”.
Não
é difícil encontrarmos contadores que ainda discordam da ideia, ou
resistem de forma definitiva às mudanças de atuação, e o que é
pior, negam-se a adaptar-se a “era do cliente”, e estão mais
preocupados com os valores dos honorários do que contribuir para o
crescimento dos clientes. Outros argumentam que essa forma romântica
de fazer contabilidade é fácil em versos e prosas, mas que na
prática tudo é diferente, dado o volume de Serviços que às vezes
chega a ser estafante.
É
bem verdade também que algumas questões não ajudam muito no avanço
do profissional como orientador. Legislações tributárias,
trabalhistas e previdenciárias em nosso país são extremamente
complicadas, e fazem com que contadores e escritórios se dediquem
mais nessas áreas para atenderem seus clientes, e acabam deixando de
lado a essência das Ciências Contábeis, que são as demonstrações
financeiras e suas análises, papel fundamental do contador, a fim de
mostrar aos clientes como andam seus negócios.
É
possível que os argumentos dos profissionais que discordam sejam
aceitáveis, mas o fato é que, por questão de sobrevivência, a
mentalidade dos empresários está mudando em grande parte do mundo,
afinal não há mais como ter prejuízos em um ambiente global onde a
competição se acirrou em demasia desde a globalização na década
de 90, e que aumenta a cada ano.
Controlar
finanças não é tarefa fácil. Se a grande maioria das pessoas não
tem autodisciplina nas finanças pessoais imaginem as empresas,
sobretudo as pequenas e médias, e o contador é o agente mais
próximo dos números dos seus clientes, e por isso é o mais
indicado para orientar na organização das contas e auxiliar na
tomada de decisões por meio de seus balanços, demonstrações e
análises,
e com isso, aumentar a qualidade dos seus serviços.
Assim
como ocorre nas atividades produtivas, podem estar chegando ao fim as
formas baseadas em tradições muitos antigas com que os
profissionais da contabilidade lidam com os clientes, pois voltando
ao artigo do professor Marion: “Qualquer tipo de serviço que não
acrescentar valor e/ou satisfação ao cliente não perdurará nos
dias de hoje.....serviços excessivamente voltados para escrituração,
ênfase fiscal, Serviços burocráticos etc. não agregam valor, não
aumentam a riqueza do cliente e, consequentemente, não podem trazer
satisfação”, e cliente insatisfeito não valoriza o profissional.
Dessa forma, e também por questão de sobrevivência, os contadores
e escritórios terão que mudar, sob pena de um grande número se
tornar dispensável.
Alguns
podem considerar os artigos aqui citados como ultrapassados, mas eles
mostram um horizonte que nos leva a reflexões nesse ano de 2013.
Informação divulgada em 31 de julho pela Serasa Experian, dão
conta que 905.468 empresas foram criadas no país no primeiro
semestre do ano, pequenas e médias em sua grande maioria, e isso
significa aumento na concorrência.
Por
outro lado, segundo o Sebrae, cerca de 76% dessas novas empresas
conseguirão chegar aos dois primeiros anos de existência, o que dá
a entender que, a partir daí, nada está garantido, e os principais
motivos que levam algumas a ficarem pelo caminho são as faltas de
planejamento e experiência,
e também problemas financeiros, e isso pode significar
desorientações contábeis.
É
bom os profissionais que prestam Serviços contábeis observarem com
mais detalhes como andam as situações dos clientes, mesmo que sejam
antigos na praça, pode ser que alguns estejam precisando de
orientações.
por:
Jorge Marcos de Souza.
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