segunda-feira, 19 de agosto de 2013

CONTADORES CONSULTORES


     Nada como começar esse tema da maneira mais simples possível e com uma história verídica: balancete de condomínio.
Mensalmente, o síndico recebia o balancete, observava os números por alto, submetia à apreciação do conselho fiscal e encaminhava para o arquivo.
Em determinado mês, pegos de surpresa, síndico e conselho fiscal não entendiam os motivos pelos quais as despesas haviam suplantado a receita. Embora com receita fixa, já que o condomínio terceiriza os Serviços de cobrança da taxa de condomínio, não foi possível prever o prejuízo. Não cabe aqui criticar a direção do condomínio, mas tudo indica que ela precisa de ajuda.
Nesse caso, o contador fazia o serviço contábil para o qual havia sido contratado, o balancete mensal, e a partir daí, qualquer resultado advindo do confronto de contas, fosse positivo ou negativo, seria de responsabilidade da administração. Um exemplo simples, mas que tem a intenção de mostrar a importância que o contador terá como consultor em um futuro próximo.
Partindo para o lado empresarial, fica mais fácil entender o objetivo desse exemplo, e como teremos que atuar junto à clientela nos próximos anos. Em dado momento, empresários começarão a perceber que escritórios de contabilidade precisarão fazer mais por suas empresas, e não apenas aqueles Serviços rotineiros que não mostram os rumos que elas estão tomando.
Artigo nesse sentido foi escrito pelo professor Lopes de Sá ainda em 1998. Com o título “Novas visões na profissão contábil”, ele procura mostrar que a função do contador é também de consultor, pois ninguém melhor do que ele para executar essa tarefa, uma vez que somente ele entende a mecânica das contas em que trabalha, e assim pode fornecer informações ao cliente para que tome decisões.
Em seu artigo ele lembra ainda que “O papel de apenas informante de saldos ou zelador de assuntos fiscais está sendo superado com a Tecnologia avançada da informática”, e afirma que “A mais destacada função do contador é a de orientador......”.
Em 2005, o também competente professor José Carlos Marion mostrava que há tendências a mudanças, tanto que em seu artigo “Preparando-se para a Profissão do Futuro” ele menciona que “os técnicos e escritórios de maneira geral estão mais voltados para a avalanche de guias fiscais, legais...e de ‘serviços de despachantes contábeis’ ou, exclusivamente, escrituradores”, funções muitas vezes já informatizadas, e sugere que as empresas doravante vão precisar de profissionais da contabilidade que ajudem no processo decisório, por meio de interpretações das informações contábeis. Em sua análise o professor Marion conclui: “Assim, o contador, em sua nova função, tem muito espaço pela frente, como o ‘médico de empresas’”.
Não é difícil encontrarmos contadores que ainda discordam da ideia, ou resistem de forma definitiva às mudanças de atuação, e o que é pior, negam-se a adaptar-se a “era do cliente”, e estão mais preocupados com os valores dos honorários do que contribuir para o crescimento dos clientes. Outros argumentam que essa forma romântica de fazer contabilidade é fácil em versos e prosas, mas que na prática tudo é diferente, dado o volume de Serviços que às vezes chega a ser estafante.
É bem verdade também que algumas questões não ajudam muito no avanço do profissional como orientador. Legislações tributárias, trabalhistas e previdenciárias em nosso país são extremamente complicadas, e fazem com que contadores e escritórios se dediquem mais nessas áreas para atenderem seus clientes, e acabam deixando de lado a essência das Ciências Contábeis, que são as demonstrações financeiras e suas análises, papel fundamental do contador, a fim de mostrar aos clientes como andam seus negócios.
É possível que os argumentos dos profissionais que discordam sejam aceitáveis, mas o fato é que, por questão de sobrevivência, a mentalidade dos empresários está mudando em grande parte do mundo, afinal não há mais como ter prejuízos em um ambiente global onde a competição se acirrou em demasia desde a globalização na década de 90, e que aumenta a cada ano.
Controlar finanças não é tarefa fácil. Se a grande maioria das pessoas não tem autodisciplina nas finanças pessoais imaginem as empresas, sobretudo as pequenas e médias, e o contador é o agente mais próximo dos números dos seus clientes, e por isso é o mais indicado para orientar na organização das contas e auxiliar na tomada de decisões por meio de seus balanços, demonstrações e análises, e com isso, aumentar a qualidade dos seus serviços.
Assim como ocorre nas atividades produtivas, podem estar chegando ao fim as formas baseadas em tradições muitos antigas com que os profissionais da contabilidade lidam com os clientes, pois voltando ao artigo do professor Marion: “Qualquer tipo de serviço que não acrescentar valor e/ou satisfação ao cliente não perdurará nos dias de hoje.....serviços excessivamente voltados para escrituração, ênfase fiscal, Serviços burocráticos etc. não agregam valor, não aumentam a riqueza do cliente e, consequentemente, não podem trazer satisfação”, e cliente insatisfeito não valoriza o profissional. Dessa forma, e também por questão de sobrevivência, os contadores e escritórios terão que mudar, sob pena de um grande número se tornar dispensável.
Alguns podem considerar os artigos aqui citados como ultrapassados, mas eles mostram um horizonte que nos leva a reflexões nesse ano de 2013. Informação divulgada em 31 de julho pela Serasa Experian, dão conta que 905.468 empresas foram criadas no país no primeiro semestre do ano, pequenas e médias em sua grande maioria, e isso significa aumento na concorrência.
Por outro lado, segundo o Sebrae, cerca de 76% dessas novas empresas conseguirão chegar aos dois primeiros anos de existência, o que dá a entender que, a partir daí, nada está garantido, e os principais motivos que levam algumas a ficarem pelo caminho são as faltas de planejamento e experiência, e também problemas financeiros, e isso pode significar desorientações contábeis.
É bom os profissionais que prestam Serviços contábeis observarem com mais detalhes como andam as situações dos clientes, mesmo que sejam antigos na praça, pode ser que alguns estejam precisando de orientações.


por: Jorge Marcos de Souza.

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